Horários do dia

23 de fevereiro de 2018

Estabeleço para mim horários que não são ditados de fora. Nem do despertador, nem de programa de televisão, nem sequer da luz do sol. Acordo-me quando meu corpo acabou de descansar de mais um dia. Às vezes, quando a jornada foi pesada, o corpo pede mais sono. Como sei que o meu pede ao menos seis horas, durmo cedo para ter o brinde do sol nas madrugadas.

Ontem, com as chuvas que chegaram aqui no Recife antes de março, o sol começou a farrapar. Hoje também. Escondeu-se em uma nuvenzinha de nada, o safado, a última que sobrava cinzenta. Só apareceu quando eu estava na academia do Terceiro Jardim. E me disse com todas as letras: Pensas que estou a teu serviço? Pensas que a Terra é o centro do universo, tu dentro dela, e eu circulando em volta? Enganas-te. Galileu descobriu o certo, embora por isso tenha sido condenado. Cuidado! No meu horário de dormir e acordar mando eu. Tu que se vires nas tuas caminhadas.

Ficou tão bravo comigo que logo mandou o mar encher. Eu teria que voltar pelo calçadão? Já com pleno barulho dos motores? Dei o troco, ah, dei. Não sou de sair apanhada. Nem do sol. Voltei para a areia da praia. Em minha direção vinham três simpáticos velhinhos da minha idade, dois homens e uma mulher. Com jeito de um casal e o irmão dele. Confirmei, O mar está enchendo? Sim. Posso me escorar em um de vocês para tirar os tênis? Ofereceu-se o do meio.

Voltei pela areia banhada por ondas intermitentes molhando os pés, as pernas. Mandei ás favas a recomendação de sempre caminhar usando tênis por causa da escoliose.

Até agora, como diria o suicida que pulou do décimo oitavo andar, à altura do décimo quarto, até agora tudo bem.

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