Sociedade doente

14 de março de 2018

Na crônica do pesadelo, o mundo que não era onírico foi apresentado na forma de uma mensagem de whatsapp. Aos poucos, juntando uma crônica aqui, outra ali, vou mostrando pedaços de uma sociedade doente. Como um médico apresentaria orgulhoso ao paciente que acabou de se livrar de um tumor, Está aqui, está vendo? É do tamanho de uma laranja.

Taí. Se a maçã simboliza o prazer, a laranja não seria a dor? Ao mostrar, é como se dissesse ao paciente e familiares que o aguardam no quarto do hospital, livrou-se da dor. Do espanto da morte.

É a dor quem comanda a sociedade do medo. Por isso é doente, a sociedade. Basta ver a quantidade de farmácias em todas as ruas brasileiras. Alguém já me disse, Isso é lavagem de dinheiro! Que seja, pouco importa, para o que aqui se discute. O dono poderia ir lavar o dinheiro dele vendendo carro usado, droga ilegal, que, esta sim, dá muito mais dinheiro. Não. Abriu uma farmácia. Mais um cinema desativado.

Depois que atentei para aquela mensagem de advertência dos policiais para o imenso poder do mundo do crime (em outros tempos se diria que é uma mensagem de terrorismo), passei a receber outras do mesmo teor. Como se precisássemos estar o tempo todo em alerta contra o inimigo. O meio de comunicação facilita, com a agilidade das redes sociais. Fosse uma carta pelos correios?

Uma dessas mensagens divulga uma gripe iminente, em ABRIL, proveniente de vírus tal, que se propaga pela boca, etc. e tal. E recomenda, Passe essa mensagem adiante para que todos saibam que é importante evitar contato em locais públicos. Esse é o ponto: não se expor em locais públicos. Já temos nossas fortalezas privadas, gradeadas, protegidas. Permaneçamos nelas. Tão presos quanto os que andam entrando no celular de quem tem dinheiro. Até outro dia, dizia-se que era somente o serviço secreto americano quem sabia a vida particular do mundo inteiro.

A outra mensagem versa sobre os malefícios dos refrigerantes. Não seria mais eficaz, diria o primo Eremildo, fechar todas as fábricas de refrigerantes do mundo?

Ah! Mas ai só deus.

A propósito, há em Portugal uma lei deveras interessante. Aqui não é como no Brasil, onde os pais escolhem livremente o nome de seus filhos. Um direito civil como qualquer outro. Aqui não é assim. Ao chegar no cartório para registrar o filho ou a filha, se o nome não for conhecido pelos costumes, consulta-se uma lista. Espécie de inquisição. A ver se aquele nome escolhido consta. Caso contrário, se os pais insistirem no nome, abre-se um processo que justifique a escolha e espera-se até a decisão de um tribunal. Não querendo esperar, Volte para casa, meu senhor, minha senhora, não há pressa no registro do menino, há tempo ainda para pensar.

A filhinha de Julia, Maira, fosse filha de portugueses, não poderia ser registrada com esse nome indígena brasileiro. Como registrou-se no Consulado brasileiro, tudo bem.

Portugal tem dessas coisas. Afinal, não vai longe os trinta e seis anos de convivência com Salazar. Agora, aqui pra nós e que ninguém nos ouça, Uma leizinha dessa no Brasil, heim? Acabaria com tanto Y, W, e consoantes dobradas em nomes americanizados. Nossa lista de inquisição seria maior: permitiria nomes indígenas, portugueses e africanos.

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