Vamos brincar na praia?

Um dia de sol é uma bênção no inverno chuvoso do Pina. A chuva limpou o ar, as folhas dos coqueiros brilham que nem fio de peixeira nova fora da bainha. Somente o verde esmeralda do Oceano Atlântico não resplandece, por causa dos rios barrentos que recebe nesse tempo invernoso. Na sabedoria dos pescadores, não é tempo bom para o banho salgado. E não é mesmo.

Nessa manhã de sol, os barraqueiros da orla tiveram permissão, a partir deste último sábado de junho até o 4 de julho, para, em caráter experimental, voltar a negociar em fins de semana. A praia foi se colorindo de sombrinhas amarelas, brancas, encarnadas, verdes… Enquanto a maré esteve baixa, improvisaram-se algumas partidas de futebol dos meninos de Brasília Teimosa e da Favela do Bode.  

A Mulher do Sétimo Andar paramentou-se de verão e ganhou a praia. A sensação de liberdade crescia enquanto ia se despindo do confinamento. Depois de atravessar a avenida e o calçadão, tomou o caminho do mar pelo jardim dos coqueiros e castanholas, a maior parte arrodeados de pneus pintados de branco cortados ao meio, com a identificação de quem os plantou. (Ajudando a prefeitura no reflorestamento das praias do Recife). Nesse jardim, viu que o mato havia crescido com as chuvas. O pisar nesse terreno molhado trouxe reminiscências àquela mulher. Caminhou até suas duas crias, Emília e Josué. Josué, coqueiro menino, estava com uma folhagem em verde novo. Arrancou uma folha seca já caída no chão. E Emília, uma mocinha, folhas viçosas, tronco fornido, castanhas novinhas presas aos galhos.

Segurou no tronco da castanhola sua para, com a outra mão, tirar as sandálias. Tirou também a máscara e o vestido. De biquíni, pés descalços, foi caminhando nesse mato, que lhe fazia uma espécie de massagem na sola dos pés. O tato, quase tanto quanto o cheiro, nos conduz a lembranças…

Depois, já na areia da praia, era como se saísse do Agreste para o Rio Doce, no tempo em que aquela praia de Olinda era quase deserta, com uma igrejinha no meio do coqueiral. O mar estava se recolhendo, deixando para trás uma faixa de areia com textura craquenta, dando aos pés o mesmo sentir da língua e dos dentes mastigando um tareco, um sequilho, algo sequinho. Caminhou de um lado para outro esmagando com os pés descalços os torrões que acabavam de sair do forno do sol.

Depois de pisar a terra ressequida, tal como fazia em veraneios na praia de Rio Doce quando criança, foi caminhando sem pressa até o mar, no pedaço em que este se espalha pelos arrecifes cobertos de musgos e locas de peixinhos miúdos, piabas e outros seres estranhos em miniatura, como é a Maria Farinha. Lugar de menino pequeno brincar.

O mar não apetecia, com a água fria e barrenta. Ficou então em pé, defronte ao infinito oceano, só espiando e ouvindo dele o incessante murmúrio; sentindo os pés afundando na areia mole, tirando aos poucos o equilíbrio do corpo ao ir e vir das ondas. Vamos apostar quem fica mais tempo sem cair?

As praias, igual Carnaval, são lugares de brincar. Ao carnaval, se pergunta, por hábito: vai brincar esse ano? Por que não, também: vamos brincar na praia?

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