A castanhola menina.

16 de setembro de 2025

Com a maré seca, vi que dava para caminhar na beira da praia. Teria que atravessar as obras do calçadão. Foi então que tomei o maior susto! Lá estava Emília, à beira de um precipício. Caminhei por dentro do alambrado, cheguei perto. Era um alicerce cavado fundo para uma futura construção. Seis horas da manhã, um operário se aproximou, e eu quis saber quem era o responsável pela obra. “Os engenheiro só chega às nove”.

Cheguei ao canteiro de obras às oito e meia. Visto da minha janela, não imaginava aquele espaço: uma cidadela, com escritórios, materiais de construção, um ônibus, carros e máquinas estacionados, gente de capacete andando de um lado para o outro. Era ver uma vila construída como cenário de filme. A jovem engenheira responsável pela obra acabara de estacionar o carro. Depois de me ouvir, gentilmente acompanhou-me ao local, não sem antes colocar máscara e capacete. Examinou a insegurança da tenra árvore de oito anos, tronco em formação, fininho, torto, e garantiu: “sua castanhola será sim preservada, dona Teresa”. Será?

Diferentemente de Copacabana, aqui o espaço entre o oceano e os prédios é mínimo. A cada ano eleitoral, areia, vegetação rasteira, coqueiros, castanholas, são sacrificados em prol do cimento. Talvez daqui trinta, cinquenta anos, quando o mar já tiver se aproximado ainda mais do continente, se tome consciência de que o benefício em circo para o povo não compensou o dano à natureza.

Mas naquele momento, não estava ali como militante de nenhuma causa ambiental. Queria apenas salvar Emília.

Em 2017, eu havia ido a uma cimenteira, onde comprei muda de um coqueiro e de uma castanhola. Contratei um jardineiro para me ajudar a plantá-las no terreno arenoso e com vegetação rasteira entre o calçadão e a praia. Já vira outras árvores irmãs com o nome de quem plantou escrito num pneu em volta.

Naquele ano, estava iniciando a escrita de um romance, e resolvi escrever nos pneus em volta das árvores bebês os nomes dos protagonistas: Emília (a castanhola) e Josué (o coqueiro). O coqueiro morreu. Plantei um segundo, que também morreu. Ficou Emília, viúva de dois maridos, sozinha.

Vi-a crescer à cada inverno. Quando novinha, em verões rigorosos, ia regá-la. Quando eu já for cinzas e estiver junto aos ossos de meus antepassados em Bezerros, minha bisavó Emília, meu pai, gosto de pensar que essa Amendoeira continuará viva, adulta, tronco forte, galhos espalhados com folhas gordas, colorindo o outono de amarelos e alaranjados, sombreando quem volta cansado do banho de mar, quem quer se escorar no seu tronco para calçar uma sandália, se organizar para ir pegar o ônibus e voltar para casa depois de um domingo de sol.

Perdê-la, em benefício de um platô de cimento, seria uma dor tanta como perder um animal de estimação atropelado na avenida.

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